1.2.06

O outro Sá

O não deixa ninguém indiferente. Ao longo da sua carreira, a sua garra foi admirada, o seu temperamento censurado. Do Sá espera-se tudo. Desde um dos jogos da sua vida no estádio do Benfica à agressão a Artur Jorge, que lhe valeu a ida para a Real Sociedad. O seu percurso está marcado pela glória dos títulos conquistados, de um joelho direito retalhado por quatro operações e de feitio complicado, que um dia o levou a fazer um desvio do aeroporto de Lisboa para esbofetear Artur Jorge e Rui Águas para, de seguida, apanhar com toda a naturalidade o voo para Casablanca, em Marrocos, onde o Sporting defrontou o WAC num torneio de Páscoa.
Numa época claramente em sub rendimento, a inclusão do Sá no jogo de sábado não foi unânime. Para muitos, Romagnoli devia ocupar o lugar do veterano, isso mesmo, do “velho” sem pernas, dos penáltis infantis, como eu próprio o apelidei. Paulo Bento não achou e colocou o antigo colega no onze titular, num jogo crucial para o Sporting, ou seja, aqueles que só dão mais pica ao Sá. Eu próprio sabia que o Sá ia calar-me. E fê-lo como nunca pensaria que o fizesse.
A garra com que encarou o jogo, a vontade com que carregou os colegas e a ira no seu olhar quando a bola teimava em não entrar, só lhe deu mais pica. No penálti, chamou a si a responsabilidade. Os olhos concentrados na bola anunciaram o golo. Os festejos foram excessivos, provocatórios, de “foda-se e caralho”, deixando os benfiquistas revoltados e os sportinguistas deliciados. Mesmo com o empate, o Sá não ficou contente e viu o “Levezinho” a quem um dia não deixou marcar um penálti, resolver o resto.
No momento de ser substituído, o Sá não aguentou. Berrou, chorou, exultou… e beijou a camisola, a camisola que sempre o acompanhou ao longo da sua carreira, muito antes de usar aparelho nos dentes. A camisola que vestiu pela primeira vez com um símbolo antigo, com um queijo publicitado, ofuscado pela magia de Balakov e de um Figo que um dia foi o melhor jogador do Mundo. Eles passaram, o Sá foi ficando.
Numa altura em que o amor à camisola não passa de um mito, o gesto do Sá na substituição arrepiou os sportinguistas. Nunca ninguém tinha beijado aquela camisola daquela forma. Já não temos o Barbosa, o Rui Jorge ou o Beto, mas ainda temos o Sá. E com ele, uma grande formação de onde se espera que surjam outros “Sãs”. O Pinto, de que se fala, e que está em final de carreira, vai deixar de fazer gestos como o de sábado.Esperemos que tenha o respeito que merece por parte da direcção e que estes o homenageiem condignamente. De preferência com o Barbosa e o Rui Jorge ao lado. E já agora, que a direcção não destrua os futuros “Sãs”.Depois daquele gesto, é o mínimo. Da minha parte, reservo-lhe a mais pequena e sincera homenagem: o seu nome na minha camisola.
Publicado por Rui Melo às 00:34 em http://terceiroanel.weblog.com.pt

Assino por baixo! e este Sá não sou eu mas o Sá Pinto que tanto admiro!
o melhor jogador português, pelo menos em termos de garra e querer!
Escusado era ter cometido alguns erros na vida!!

1 Comments:

Blogger João Malainho said...

Cada vez são menos, no futebol como na vida. Levam pontapés, como levaram o Pedro Barbosa no SCP, o Fernando Gomes no FCP ou o Joao V. Pinto no SLB. Atraiçoados pelos da "sua" cor.

Quanto a mim quando o Vítor Baía sofre um frango, é como se a bola tivesse passado por entre as minhas pernas. Quando o João Pinto (o mítico nº2) falhava um centro com o pé fissurado nunca o pude culpar...

Cada um tem os seus, e se os do futebol até têm a obrigacão de se desenrascar (ganham bem demais) há outros na vida que sempre precisarão que não se esqueçam deles.

Há valores que devem sempre sobressair na adversidade - a solidariedade sincera é sem dúvida um deles.

6:00 da tarde  

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